06 de Maio de 2015
«O Partido está vivo. Há iniciativas, há gente nova que se interessa pela política»
«Aquele grupo de deputados designado de “Ala Liberal” acabou por vir a ser um pequeno partido de oposição dentro de um parlamento monolítico»
O que significa ser o militante n.º 1?
Significa uma responsabilidade muito grande! É claro que o primeiro de todos nós é Francisco Sá Carneiro. Nunca podemos esquecer que ele é a grande referência, e uma referência que permanece muito actual. Mas o facto de entre os três fundadores eu ser o único vivo dá-me essa responsabilidade. É também uma honra e, por isso, procuro desempenhá-la com algum afastamento, que é o dever de quem já saiu da política activa. Mas também com empenho, sempre que me são solicitadas tarefas que eu entendo poder e dever aceitar.
O PSD é um projecto que continua válido?
O PSD é um projecto que continua válido, como demonstra a escolha dos eleitores ao longo de todos estes anos. É um projecto que tem o valor de ser um partido muito português, fundado em Portugal sem grandes raízes nas internacionais partidárias que existem pelo mundo. Ao mesmo tempo, por ser social-democrata, é um partido pragmático. Não está enfeudado em ideologias cristalizadas.
E eu acho que é nesse sentido que temos de apostar, pensando que a social-democracia no século XXI é diferente, apostando por exemplo no ambiente – como temos sempre apostado – na economia verde, na economia azul, e tentando apresentar e implementar medidas que corrijam as desigualdades sociais, que permitam a inclusão de pessoas, que, por razões financeiras e territoriais, estão privadas de uma igualdade de oportunidades à partida. Esse é o desafio que permanece, para o qual os sociais-democratas têm soluções e que, espero, continuem a dar a sua preferência eleitoral ao PSD, para que as possa executar. Veja-se o bom trabalho que o Partido fez nestes quatro anos, em que Portugal estava numa situação muito perigosa, quase a atingir o caos, e em que houve uma recuperação enorme. Essa recuperação agora tem de servir para continuarmos o nosso caminho, a nossa rota, modernizando a democracia em geral e aplicando-lhe os valores da social-democracia actualizados.
Após a consolidação do regime democrático, que momento elege como o mais marcante da nossa história política? E como o viveu?
Para mim teve muita importância a concretização representada pela revisão constitucional de 1982. Era eu presidente do Partido e Primeiro-Ministro, razão pela qual estou muito ligado a esse momento. Depois disso, houve vários momentos. Há um que ficará na História de Portugal, entre outros, que foi a nossa adesão plena à então Comunidade Económica Europeia.
Que balanço faz das comemorações dos 40 anos do PSD?
Acho que não devia falar ou fazer elogios em causa própria. Aliás, o mérito nem é meu. O mérito é da comissão organizadora, criada para esse efeito e que integrou os quadros e órgãos do Partido. Eu penso que houve uma revitalização do PSD, que era importante. Houve um reencontro. Fomos chamar pessoas que estavam um pouco afastadas, por uma razão ou por outra, e que voltaram a juntar-se, a participar, a acreditar. Isso é muito importante para um partido que quer estar vivo e actuante. Foi uma lição, porque tendo estado muito afastado do dia-a-dia, desta vez tive de me aproximar. Fi-lo com muito gosto. Verifiquei que o Partido está vivo.
Há eleições, há iniciativas, há gente nova que se interessa pela política. Houve milhares de novos militantes inscritos neste último ano. Isso deu-me um enorme prazer e a certeza de que vamos continuar a ser um dos maiores, senão o maior partido português.
«O Partido mudou, com certeza, como também o País mudou e o mundo mudou. Mal de um partido que fique estagnado naquilo que era há 40 anos.»
Qual o contributo da social-democracia para o século XXI?
Acho que já respondi em parte a esta pergunta, quando disse que há um conjunto de medidas relacionadas que têm a ver com o que estamos a viver. Dei o exemplo da economia verde (o ambiente), da economia azul (o mar), onde há muito a fazer.
E, em termos mais genéricos, dei o exemplo da procura da justiça social, corrigindo o sistema de Segurança Social, apostando na necessidade de preparar o futuro dos que agora são jovens. Devemos insistir na necessidade de dar condições de igualdade à partida. Uma pessoa que nasça no nordeste português, numa ilha dos Açores, não pode ter menos oportunidades que uma pessoa que nasça em Lisboa ou no Porto.
E proporcionando a todos os portugueses essa igualdade, podemos conseguir que o país seja mais competitivo, que as nossas empresas consigam mais exportações, como forma de aumentar a riqueza e o emprego. Falando de emprego, atacando o problema grave que continua a ser o desemprego. O actual Governo conseguiu travar o agravamento que se estava a notar em todos os índices de desemprego, mas precisamos de baixar o desemprego ainda mais.
Essa é uma tarefa que precisa de um Estado mais ágil. Não precisa de ser mínimo. Nós nunca defendemos o Estado mínimo, mas precisa de ser mais ágil, mais capaz de encontrar soluções para o imediato bem-estar das pessoas, através da criação de empregos. Eu julgo que isso pode ser feito, estará a ser feito e vai ser feito se durante mais quatro anos o PSD estiver no governo.
«Houve milhares de novos militantes inscritos neste último ano. Isso deu-me um enorme prazer e a certeza de que vamos continuar a ser um dos maiores, senão o maior partido português.»
Como olha para Portugal? O que o preocupa?
Preocupa-me que a democracia esteja, em alguns aspectos, enfraquecida. Já devíamos ter uma nova lei eleitoral que aproximasse os eleitores dos eleitos. Não foi possível atingir isso. Há cada vez mais abstenção e ela resulta do desinteresse de uma parte demasiado elevada da população. É preciso interessar os que se abstêm. Por exemplo, as redes sociais, o voto electrónico, são maneiras importantes de chegar aos cidadãos e convencê-los que um bom cidadão deve ser também um eleitor fiel e constante.
Há esperança?
Há esperança, com certeza que há. O futuro é mais importante que o passado. Temos de tirar lições das comemorações destes 40 anos do PSD, mas o futuro é muito mais importante que o passado. E o futuro passa pelas pessoas, pelo respeito da pessoa humana. Não há soluções mecânicas ou abstractas. Há soluções que vão directamente às necessidades e aos objectivos de cada um de nós.
Qual foi a decisão mais difícil que tomou na sua vida?
Foi aceitar suceder ao Dr. Sá Carneiro como primeiro-ministro em circunstâncias trágicas. Não estava nas minhas perspectivas continuar na política de forma activa. Já tinha conversado sobre isso com o Dr. Sá Carneiro em Outubro ou Novembro de 1980, dizendo-lhe que não quereria ficar no Governo.
O que lhe vem à cabeça perante as seguintes palavras? Constituição.
1976.
Europa.
Bruxelas.
Jornalismo.
Liberdade.
Ética.
Indispensável.
Família.
O melhor que há.
Bateria (instrumento musical).
Uma grande companheira.