04 de Dezembro de 2014
Homenagem a Luís Rodrigues, redactor do “Povo Livre” entre 2003 e 2014
O avô materno contou-lhe o episódio do Massacre de Katyn, na Rússia. A ordem de Estaline traduziu-se no genocídio que mancha ainda hoje as páginas da História do século XX: foram executados mais de 20 mil polacos (militares, civis, intelectuais e religiosos). Luís Rodrigues era criança quando o avô materno lhe narrou o acontecimento (o avô Luís Correia Matias era uma pessoa prestigiada no Barreiro, fundador do Futebol Clube Barreirense). A outra referência foi o avô paterno, Manuel Tavares Rodrigues, industrial corticeiro e empresário hoteleiro, um republicano indefectível e um dos fundadores da I República no Barreiro (deslocou-se a Vale do Zebro, na madrugada de 5 de Outubro de 1910, para insurreccionar o que era, então, o corpo dos marinheiros da Armada).
Luís Manuel de Vasconcelos Matias Rodrigues nasceu no Barreiro a 14 de Outubro de 1935. Aí viveu até aos 18 anos. Teve uma educação política à maneira inglesa, cresceu no ideal de democracia representativa e rodeado de livros. A Inglaterra era o modelo “ensinado” em casa e a BBC, a estação de rádio que toda a família sintonizava. Estudou no Liceu Pedro Nunes, em Lisboa, e interrompeu o 2.º ano do curso de Medicina da Faculdade de Medicina de Lisboa, para prestar Serviço Militar em Angola; recebeu mais tarde formação em Marketing e Gestão para Executivos de Marketing, na Universidade de Witswaterand, na África do Sul. Em Luanda, começou a longa ligação ao jornalismo. Foi redactor principal, chefe de redacção e adjunto do jornal “A Província de Angola”; enviado especial de guerra ao Congo, Biafra, Katanga e Vietname; director do “Jornal do Congo”, no Uíge; correspondente da BBC (World Service) e BBC/TV, em Angola e na Zâmbia, entre 1972 e 1975; correspondente de guerra no interior de Angola (com a UNITA); colaborou com a “Newsweek” e o “Star”, de Joanesburgo. Regressou a Lisboa depois do 25 de Abril de 1974, e foi como “freelancer” da “Associated Press”, em Lisboa, que retomou o ofício de jornalista. Exerceu também as funções de director de marketing dos Laboratórios Delta, e foi assessor de Imprensa dos Presidentes da Câmara Municipal de Lisboa, Nuno Abecasis e Carmona Rodrigues. Foi redactor do “Povo Livre”, jornal oficial do PSD, entre 2003 e 2014.
Luís Rodrigues é um bom contador de estórias. Sofreu na pele a guerra civil angolana, numa fuga vertiginosa com as tropas de Jonas Savimbi e da UNITA pelo interior daquele vasto país. Caminhou 1500 quilómetros e, no fim, o corpo carregava as marcas da dolorosa marcha: perdeu 30 quilos. Salvou-se da fome e da doença.
Desde a assinatura do Pacto Ribbentrop-Mólotov que já não havia ilusões sobre o comunismo na família de Luís Rodrigues. Não foi também preciso esperar pela ascensão de Nikita Khrushchev, para abrir os olhos do pequeno Luís, sobre os perigos do comunismo.