Os jovens militantes de Mafra
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01 Fevereiro 2015
Distrito: Lisboa Autor: Maria José Cardoso Gonçalves dos Santos

Os jovens militantes de Mafra

Para Maria José Cardoso dos Santos, secretária da segunda Comissão Política em 1976, recordar o Partido Popular Democrático é recordar o seu irmão Óscar Gonçalves, militante número “setecentos e tal ou seiscentos e tal” dizia ela, antes de passar aos tempos de colégio em Braga onde todos os dias se ouvia a dizer “…foi preso pela PIDE”.

Maria José compara as vivências de Braga às da Ericeira e refere que o colégio onde andava, de índole religiosa, permitia algumas saídas e estas, por sua vez, proporcionavam alguma discussão política entre as pessoas. “Na Ericeira não havia oportunidade para isso”, diz ela. “Não havia oportunidade para discutir o corporativismo de Marcelo Caetano ou as novas funções sociais... era tudo muito fechado, não era fácil.” Foram a Escola Prática de Infantaria e o Centro Militar de Educação Física que trouxeram para Mafra a diversidade política, diz. Antes disso, politicamente e “melhor instalados” que o PPD estavam os partidos de raiz comunista e os partidos de extrema esquerda.

Estas Unidades Militares em Mafra exigiam o 5.º ano de escolaridade a qualquer pessoa que ali se quisesse inscrever. E vinham de todo o lado: Braga, Faro e Évora são apenas algumas das localidades que Maria José relembra. Os alunos e militares, que chegavam de todo o país, transformaram Mafra num centro político no pós 25 de Abril de 74.

Mas o município, nessa altura, estava muito virado à esquerda e Maria José admite, abertamente, que se sentia mais pró-socialista. “Era muito fácil ser-se pró-socialista. Era aquele que nem era contra nem era da situação, estava ali no meio... jogava um bocadinho.” – afirma ela, quase arrependida por sentir que aquelas são palavras que não se devem dizer, desculpando-se, no entanto, por “ser esta a realidade.”

Mais tarde, foi na sua sala que preencheu a ficha de militância do Partido Popular Democrata, com o seu irmão e outros formadores do Partido ao lado. Foi, assim, em sua casa que Maria José Cardoso dos Santos se tornou numa das primeiras militantes do PPD de Mafra. Relembra esses tempos sem qualquer hesitação, a militância e o seu significado, nos primeiros anos do Partido. Os mesmos de um Portugal democrático. Maria José fala deles como se ainda ontem as telefonias nos perguntassem de quem nos tínhamos esquecido.

Fala da fábrica das redes de pesca onde na Ericeira se juntavam antes da revolução, e durante algum tempo depois da mesma. Era dali que partiam a divulgar o Partido Social Democrata: “Um grupo de jovens que andavam pelas terras a tentar angariar novos militantes.”

Lembra-se de irem a Santo Isidoro, a Ribamar, à Venda do Pinheiro ou à Malveira. É quando Maria José recorda a Ericeira com as imagens de uma casa “muito velha” que nos chegam do princípio da Democracia.

Parecia que seria ali que Mafra renasceria das cinzas da ditadura. A casa, mesmo muito velha, continua Maria José, “caía por todos os lados, chovia por todos os lados…” e, por todos os lados, “... havia ratos. Era ali que nos reuníamos.”

A aquisição desta casa ofereceu um espaço para almoços, jantares, reuniões e convívios. E acabou por ficar para a história a casa do Largo dos Condes, à qual chamaram a Sede dos Ratos. No primeiro andar era a sede do PSD e a casa foi paga pelos seus militantes.

Desses primeiros, os militantes que Maria José mais se lembra são “o Mourão Andrade e o Vítor Taveira”. Além dos principais dinamizadores dos convívios e reuniões da Sede dos Ratos: o Henrique Canudo ou o Armindo do Brás Monteiro.
Além de ser uma das primeiras militantes, Maria José foi também a primeira mulher a candidatar-se à Junta de Freguesia da Ericeira, perdendo para o socialista Mário Cravina. Maria José salienta o carácter sociológico da freguesia que “vira para ali” – para o PS.

A dada altura o Presidente de Câmara foi eleito pela Aliança Democrática acabando por não durar muito tempo. Foi durante estes momentos que o futuro de Mafra começava a dar os primeiros passos no circuito político ou, segundo Maria José, começaram a aparecer os homens que abririam as portas à elite do PSD em Mafra – a nova formação: Licenciados, Doutorados, melhor preparados, mais aptos, mais profissionais e com a retórica necessária. “Sabiam falar”, observa Maria José.

José Maria Ministro dos Santos, Joaquim Francisco da Silva Sardinha (que viria a tornar-se o homem que mais vezes esteve à frente do PSD Mafra e, pela altura da edição deste livro, o vice-presidente da Câmara Municipal de Mafra), José António Dias Pestana (o grande estratega político da primeira vitória do PSD de Ministro dos Santos) e João António dos Reis Corte-Real. O futuro juntava-se assim a um passado recente: Mourão de Andrade e Vítor Taveira.

Maria José Cardoso Gonçalves dos Santos foi uma das primeiras militantes do PPD/PSD de Mafra. Quando se deu o 25 de Abril, Maria José tinha 25 anos e admite que o que mais gostava eram as Jotas. “Sempre me dei mais com a JSD do que com a área dos adultos.” Sobre os 40 anos do PSD de Mafra, Maria José gostaria também de referir alguns anónimos. Pessoas que, por uma ou outra razão não exerceram nenhum cargo relevante, mas que por isso não podem deixar de ficar esquecidos. Para Maria José a família Penicheiro tem lugar de destaque: “Todos eles. Henrique Pereira Canudo e irmão Manuel, respetivas mulheres e filhos.” E ainda guarda um lugar na memória para a Irene, para o Armindo, o Daniel, o António e o Lino.

Das memórias do passado regista a morte de Sá Carneiro como um dos marcos mais tristes do PSD e hoje, com 65 anos, Maria José considera que o futuro dos partidos terá necessariamente de se afastar do passado dos mesmos. “Somos o resultado das nossas vivências” e sublinha que os jovens de hoje, culturalmente mais evoluídos e com formação académica superior, não “viveu o antes do 25 de Abril” e, por isso, as suas preocupações serão outras, “menos viradas para as questões sociais”.

Maria José acredita que os Partidos se irão adaptar a novos princípios, de acordo com as mentalidades daqueles que os vão gerir, os jovens do presente.

Conheça outras Estórias da História no livro «40 anos de acontecimentos, de obras mas acima de tudo de pessoas», do PSD Mafra.

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