Do Ultramar para Mafra
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01 Fevereiro 2015
Distrito: Lisboa Autor: Joaquim Filipe Abreu dos Santos
Foi no Ultramar que Filipe Abreu ouviu pela primeira vez falar do Partido Popular Democrático, em comissão de serviço na Força Aérea, “logo que o partido se formou”.
O seu pai enviava-lhe todos os dias o Diário de Notícias e foi através do jornal que Filipe Abreu acompanhou o que se passou durante o 25 de Abril e “durante o mês de Maio”, quando começaram a surgir as notícias do “PPD, do PS, de tudo o que havia, das UDP’s, da Esquerda toda, do Partido Comunista e de todos os problemas que havia.”
A primeira coisa que fez quando chegou a Portugal, no dia 12 de Dezembro de 1974, foi comprar o programa do CDS, do PPD e do PS. Na altura não os davam, vendiam-nos “porque os partidos não tinham dinheiro”. A decisão de não comprar os restantes programas foi deliberada. Da Esquerda, Filipe Abreu considerava que sabia “o que dali vinha, as ideias e as ligações internacionais.” Preocupou-se então com aqueles três programas e depois da leitura tomou a sua opção: o PPD.
“Independentemente das pessoas que lá estavam. Se “A”, “B” ou “C”; foi a minha opção e mantive-a até hoje, independentemente de quem estivesse à frente do partido.” Foi por “inclusão” na sua mente, e não por exclusão de partes, que optou pelo que dizia o programa do PPD. Mas confessa lembrar-se das intervenções de “Miller Guerra, Pinto Balsemão e Sá Carneiro” que vinham reportadas nos jornais que o pai lhe encaminhava todos os dias. E de outras, traduzidas na imprensa estrangeira.
Naquela época, com vinte e dois anos, admite que os jovens “tinham uma consciência diferente.” Depois foi simpatizando e colaborando, recordando umas setas pintadas na parede do seu prédio da altura, contíguo à residência privada do Presidente da República Prof. Cavaco Silva, em Lisboa. “Ainda lá estão uma setas pintadas a amarelo na parede do prédio, com PPD escrito por baixo.”
Lembra-se de andar pelo concelho “sozinho, com um escadote, brocha, pau de cola e uns cartazes enrolados. Não era militante sequer.” Vivia em Lisboa mas vinha para a Ericeira aos fins-de-semana e era o reformado da Polícia Lino Camilo Ferreira que lhe dizia, sempre que o via: “Sr. Filipe, você tem de se tornar militante.”
“Isto durou muito tempo”, diz Filipe Abreu sobre as sugestões e o os incentivos de Lino. “Só aderi no dia 22 de Novembro de 1980. Quando passei à disponibilidade, depois de deixar a Força Aérea.”
Além de Lino Ferreira, Henrique Canudo também teve uma participação ativa na sua militância. Quem terá assinado, provavelmente, a proposta foi Henrique Canudo, com quem Filipe Abreu tinha ligações familiares. “Conhecia-o já há muitos anos. Creio que quem assinou a proposta foi mesmo o Henrique Canudo.”
Filipe Abreu recorda-se que no início era complicado ser militante do PPD.
Lembra-se da primeira sessão de esclarecimento onde a plateia estava “completamente à pinha”. “Quase 90% das pessoas não tinha nada a ver com o recém formado partido ou com a ideologia que vinha traduzida nos jornais e que o PPD prosseguia”.
E compreende que “a tendência era ser tudo de Esquerda, tinha de ser de Esquerda, tínhamos de cortar com uma ditadura. Muita gente nem sabia o que era a ditadura, mas aquilo tinha de virar e dar a cambalhota para o lado oposto. Não houve agressões, mas aquilo esteve mesmo à beira de se inflamar.” Lembra-se também de uma outra sessão nos Bombeiros de Mafra onde “o falecido Amândio Quinto, que representava o PPM na altura, foi buscar uma pistola e ainda apareceu no meio da avenida de pistola em punho; os comunas eram mais do que nós e aquilo foi um serrabulho.”
Em Mafra “era complicado” principalmente quando se atendem às diferenças entre os concelhos mais próximos de Lisboa: Mafra, Cascais, Oeiras. “A população era diferente. O concelho era puramente rural e houve aquela tentativa de dar a cambalhota no início. Ouvia-se dizer que era fascista e era fascista e pronto.” Recorda uma notícia que leu, ainda no Ultramar sobre um cidadão que foi obrigado a fugir da populaça, na Praça do Comércio – “era um turista alemão que estava a passear na praça e não sabia uma palavra de português.”
No complicado início, o trabalho era “quase diário, de boca a boca, de bater à porta das pessoas.” Os principais atores nessa altura, para Filipe Abreu foram “o Henrique Canudo, o Vitor Manuel Jacinto Taveira, o Lino Camilo Ferreira, o Armindo do Brás Carvalho… há uma quantidade de gente que tiveram mais dores de cabeça, tiveram de se esconder, de fazer reuniões clandestinas com medo de represálias. Eram outros tempos.”
Lembra-se depois de trabalhar com José António Dias Pestana; “era enérgico, dinâmico e firme, sempre atuante, refilão... mas convivi com ele perfeitamente durante muitos anos. Quando eu entrei para a Câmara ele era o assessor jurídico.”
Recorda a influência da morte de Sá Carneiro em Vítor Taveira “a partir daí, afastou-se de tudo o que veio a seguir no PSD. Para ele todos eram assassinos, malandros e bandidos. Para ele, estavam a destruir o partido.”
O grande boom do PSD e do crescimento do concelho, “sem desprimor para Joaquim do Val Morais”, foi o período de José Maria Ministro dos Santos. “O partido cresceu. Quando há obra, as pessoas estão contentes, aderem e vão atrás.” Filipe Abreu vai falando, sublinhando sempre a frase “sem desprimor para o Val Morais.”
“Normalmente, tudo o que eu assisti aqui ao longo dos anos, foi sempre de continuidade. Quem veio a seguir pegou numa parte do projeto anterior."
Militante e Dirigente do PSD
Ex-Presidente PSD Mafra
Ex-Vereador CMM
Atual Presidente da Junta de Freguesia da Ericeira
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