O segurança de Sá Carneiro em Mafra
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01 Fevereiro 2015
Distrito: Lisboa Autor: Carlos Alberto Micael Pereira
A primeira vez que Carlos Alberto Micael Pereira (Cabé) ouviu falar do Partido Popular Democrático foi em 1974, recorda ele, numa altura em que ainda não tinha qualquer cor política e o seu pai o convenceu a ter uma participação mais ativa.
Foi, aliás, na presença do pai, na sua loja de artigos de pesca na Ericeira, que Carlos Pereira preencheu a ficha de militante do PPD. A visão do seu pai sempre fora a de uma base de militância do PPD na Ericeira e Carlos Alberto relembra as sessões de esclarecimento que ambos começaram a fazer, em Vila Franca do Rosário, Santo Isidoro.
Em grande parte, a luta era feita contra a CEUD – Comissão Eleitoral de Unidade Democrática – e era mais o seu pai que tinha a ideia de integrar o PPD no concelho, admite. “O PPD foi construído na Ericeira com suor e lágrimas por parte do meu pai. Depois, por parte da minha mãe que acabou por aderir a tudo isto. Agora é o Partido Social Democrata, mas ele, o meu pai, penso que foi a voz principal do Partido Popular Democrático no concelho.”
O primeiro comício a que assistiu foi também com o seu pai, numa “terreola antes de Torres Vedras” – São Pedro da Cadeira. Nesse comício discursaram Helena Roseta (hoje membro do Partido Socialista), Pedro Roseta e um sindicalista “do qual o nome já não me recordo.”
O pai de Carlos Alberto Miguel Pereira, a partir do momento em que aderiu ao PPD “vivia mais o partido do que a própria família. Saía para comícios, para sessões de esclarecimento; ia a todos os congressos. Vivia a política e o PPD. A sua ambição era social.” Era a de “trazer gente. Era um combate para não deixar os Comunistas tomarem o poder disto.” – afirma Carlos Pereira, sublinhando que o seu pai nunca teve intenções de ser presidente da Câmara de Mafra. Disso, “ele afastava-se.”
Mas as cores políticas causavam problemas. O pai tinha uma fábrica de redes de pesca na Ericeira, com perto de 60 empregados e empregadas. “Era empresário, conectado com uma certa elite, honesto e disciplinado.” Ser-se empresário, naquela altura, era, de certa forma, estar-se ligado ao antigo regime. “Principalmente quando era o PC a fazer propaganda.”
Era conhecido no Rato por lá ir constantemente pedir autorização para “fazer qualquer coisa” e materiais logísticos para tornar possíveis essas coisas, como sessões de esclarecimento.
Os seus ídolos eram Francisco Sá Carneiro e Francisco Pinto Balsemão e Carlos Alberto Pereira lembra-se de ver o seu pai com o Diário Popular na mão a ler e a comentar as intervenções de ambos na Ala Liberal da Assembleia da República. “Sempre foi um seguidor de Francisco Sá Carneiro, antes do Sá Carneiro fundar o PPD.” E lembra-se que no dia do “acidente ou incidente de Sá Carneiro” a família estava toda no teatro ABC e, quando souberam a notícia, a primeira reação foi ir para o “Largo do Rato, para sabermos o que se está a passar. Para sabermos o que é preciso fazer.”
Depois de se tornar militante, através do seu pai, Carlos Pereira lembra algumas das suas atividades como operacional do Partido Popular Democrático. Algumas “acabavam em brigas”, algo que era “normal” nesses tempos, mas que ele “não gostava”.
No concelho, em nome do PPD fazia de tudo um pouco. Mas foi a colar cartazes que tiveram lugar momentos que ele nunca esqueceu. O primeiro foi na Encarnação, “perto da meia-noite”. Enquanto colavam cartazes num prédio, alguém no primeiro andar apercebeu-se da sua presença. “Devia ser uma pessoa de cor política diferente” e ambos levaram com um balde de urina lá de cima. Quando chegaram à Ericeira, Carlos lembra-se de que cheiravam “a mijo e o carro do meu pai estava num estado terrível.”
Este foi um episódio do qual, muitos anos depois, se lembra com um sorriso na cara e um certo orgulho. Mas outros foram mais perigosos e um apresenta-se mesmo como o “mais triste”, refletindo bem o ambiente e o entusiasmo do pós 25 de Abril.
Durante uma colagem que estavam a fazer na Ericeira um “amigo meu – um amigo nosso - o António, era do Partido Comunista e quando nos viu a fazer uma colagem na parede do mercado veio com o carro e quase nos atropelou.”
Foi a parte mais negativa, recorda, “por ser um amigo, com ideia diferentes. Nós respeitávamos as outras ideias, mas nessa altura quem era PPD não falava com os do PS, nem com os do PC. E eu tinha pessoas de família que eram PS, outras PC, e criou-se um certo descontentamento entre famílias.”
E ainda uma ocasião de “conquista”, por ter colado um cartaz na sede da LUAR, às duas da manhã, com mais quatro militantes do PPD. “Ninguém conseguia fazer colagens na sede da LUAR. Lembro-me de no outro dia acordar e ir a Mafra de propósito ver a nossa colagem numa sede que era absolutamente contra as nossas ideias e os nossos princípios. Foi o que me marcou mais.”
Apesar de não gostar das “brigas”, Carlos foi, no entanto, segurança em vários momentos da história do PSD, nomeadamente com Francisco Sá Carneiro; e a convite do presidente da Juventude Social Democrata, Carlos Pereira fez parte da segurança de Sá Carneiro num comício na Ericeira.
“E assim começou a minha missão de Segurança do Sá Carneiro, de ‘74 a ‘75. Éramos seis e eu vivi aquilo tudo: as cenas do LUAR, as tentativas de assalto à Duque de Loulé, a tentativa no Rato; os comícios em Aveiro que deram problemas enormes, os de Guimarães, Coimbra… mas isso fazia parte do entusiasmo que havia. Havia mais entusiasmo em ser de um partido do que de um clube de futebol.”
Lembra-se também que Francisco Sá Carneiro era contra ter seguranças. “Nos primeiros dois meses que fizemos segurança ele não se apercebia. Apercebeu-se pela primeira vez passados uns três, quatro meses, que tinha alguém atrás dele no Hotel Tivoli, na Avenida da Liberdade. Ele acreditava que ninguém lhe ia fazer mal.”
Era uma “pessoa bastante afável, acessível ao máximo” e recorda uma viagem que fez com ele, do Porto a Lisboa, durante seis horas, conversando sobre “vários assuntos, sobre ideias políticas que me fizeram aprender.”
Carlos Alberto Pereira diz que, se o seu pai ainda fosse vivo, partilharia da sua visão atual do Partido Social Democrata: “Sou PSD, mas as minhas raízes são PPD. Adoro o PSD, mas gosto mais do PPD. A geração mais velha viveu tudo isto e a mais nova apareceu numa fase mais calma, sem os problemas que nós tivemos durante a geração PPD.”
Diz ainda que “a esquerda, arranja sempre maneira de dizer que está mal, seja o Pedro Passos Coelho a falar, ou outro. Quero dizer aos futuros militantes que tenham fé e o ter fé é acreditar naquilo que o nosso partido pode fazer. Criar uma social democracia é importantíssimo e eu, que vivi em países diferentes e conhecendo outros países sociais democratas, não se arrependam, votem sempre PPD e PSD. É o futuro.”
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