Algures em 1988, o PSD de Guimarães, ao tempo dirigido pelo
então deputado José Mário Lemos Damião, realizou um plenário concelhio para o
qual foi convidado o então presidente da JSD, Carlos Coelho, por esses dias de
visita ao distrito de Braga.
No dia aprazado para o plenário (recordo-me que era uma
sexta-feira mas não tenho a mínima ideia do mês nem para a estória importa), e
uns quinze minutos antes da hora prevista, os dirigentes da concelhia de que
fazia parte e eu próprio chegámos à sede. Já lá encontrámos Carlos Coelho,
acompanhado por um dos seus vice-presidentes na JSD. Um jovem alto, magro,
aloirado e dando a imagem de ser algo tímido, pelo menos nos primeiros
contactos.
Lemos Damião e Carlos Coelho eram colegas no Parlamento e no
meio de algumas brincadeiras em volta da pontualidade do segundo (famosa já
nesse tempo) criou-se um ambiente de enorme descontracção em que o jovem
vice-presidente da “jota” se integrou.
Entrados na sala do plenário, e enquanto Carlos Coelho se
sentava na mesa da presidência dada a sua qualidade de orador convidado, o
jovem vice-presidente sentou-se entre os membros da CPS e casualmente entre mim
e um tradicional militante da secção chamado Laurentino Macedo conhecido pelo
seu sentido de humor e permanente boa disposição.
A verdade é que, durante todo o plenário, deixada de lado a
imagem inicial de timidez, o jovem vice-presidente se fartou de fazer perguntas
acerca da secção, da distrital, do concelho e da sua realidade autárquica
pontuadas com alguns comentários próprios sobre a política nacional ou a
curiosidade sobre algumas intervenções dos militantes locais. Mostrando um
interesse, uma curiosidade de saber e uma perspicácia invulgar e que recordo
ainda hoje passados vinte e seis anos sobre a data.
No final do plenário, e já os dois dirigentes da JSD se
tinham retirado, o militante Laurentino Macedo comentou comigo acerca do jovem
vice-presidente da “jota”: «sim senhor... Este rapaz vai longe».
Foi.
É hoje primeiro-ministro de Portugal.